Uma noite de segunda


Um dia tão chuvoso, seco, tão cinza, tão eu. Tudo muito calmo, tudo bem comum, de repente, por alguns segundos seu olhar cruzou com o meu, que me prendeu ali meio que para sempre. Mas logo o momento passou. Você entrou correndo e foi para o quarto tirando o sapato e jogando para o outro lado. Olhando para mim como se fosse a coisa mais normal do mundo, eu parecia uma criança perdida em meio a tantos brinquedos impressionantes. Eu amava essa sua segurança, esse teu jeito de me encarar, sabe?

Ele não parava de me olhar e de me oferecer aquele meio sorriso que me fazia querer parar o mundo. Eu deveria falar, é eu preciso falar, mas eu não conseguia, as palavras se perdiam entre o cérebro e minha boca. Meu sorriso começou a aparecer, mas logo o medo tomou conta e transformou-o em um sorriso frio. Ele pediu que eu me aproxima-se, fiz exatamente isto como uma criança sendo pega bem no meio de uma traquinagem e fui tomada por aquele cheiro que só seu corpo tinha, e na boca o gosto do seu beijo com aquele jeito que só ele sabia beijar, do seu jeitinho, do nosso jeitinho. Ele tinha aquele sabor de menta. E tudo voltou a ser como tinha de ser. Tudo estava no seu devido lugar.

Ruana Lins

Seu sorriso é o que preciso

E quanto ao resto, eu juro tanto faz

Sua ausência me condena à dor


(Dois Sorrisos - Moveis Coloniais de Acaju)

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