Sem perspectiva...
Chovia naquela manhã. Meus olhos inchados denunciavam que eu havia chorado durante boa parte da noite e da madrugada. Levantei sem muita coragem, abri as cortinas, o mar estava agitado, mal conseguia ver a copa das árvores de tanta neblina, a mesma coisa acontecia com ele, mal conseguia lembrar nossos momentos, risadas, beijos, abraços.
Ele sempre falou que eu nunca escrevi nada sobre ele, mas tudo que eu escrevo é sobre ele. Cada palavra, cada virgula, cada ponto final. O que mais ele queria? Que todos os gestos fossem dele também? Que todos os risos e lágrimas também fossem dele? Bom... Além das palavras ele conseguiu agora as minhas lágrimas. Eu, aquela menina que sempre disse que nunca iria chorar por ele, agora chora e todas as minhas lágrimas são dele e por ele, todas as palavras continuaram sendo sobre ele, cada gesto continuou lembrando ele, mas cada sorriso arrancado dos lábios que agora sentem o gosto das lágrimas salgadas não eram dele, talvez um dia tivessem sido, mas assim como o sol escondia seus raios o meu sorriso hoje, era apenas lágrimas.
Ruana Lins
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