Relatos sobre um Adeus.

Eu queria te contar uma coisa antes que o dia terminasse e  nada pudesse mais ser dito em alto e bom som. O peso das emoções, me pesa mais, sabe?! Mais que um tanque já pesou. A dor foi feita pra doer, é como um buraco no meio do peito, um buraco incapaz de fechar. Lembro que te disse que a vida é como um livro, temos o começo, o clímax e então o final. Você me olhou profundamente e disse: "Você é meio louquinha, mas gosto desse teu jeito de ver o mundo." Eu ri e te olhei de volta, pensando na menina alegre, corajosa e guerreira que a vida havia me dado a oportunidade de conhecer.

Refleti sobre as minhas escolhas e o quanto somos incapazes de pensar racionalmente quando somos jovens e imaturos. Ninguém nunca disse que a vida seria tão difícil. Notícias não tão boas precisavam ser dadas e a largada para a vida seria dada. Longos tratamentos, horas de espera na recepção médica. Cirurgia.  Todos os itens cumpridos com extrema maestria por você. A cada encontro novos sorrisos e promessas de que tudo daria certo. E ficou. Você estava curada. Todos estavam felizes e comemoravam contigo. E como era bom ouvir teu sorriso de alivio nas mensagens trocadas tarde da noite e quando nos encontrávamos e o sorriso podia ser sentido junto ao teu abraço.

Mas tem uma coisa na maneira como o asfalto fica quando chove, sabe? E choveu aquele dia. Nada estava como deveria ser e custávamos a acreditar que de novo a vida nos pregava uma peça. Você já não era mais a mesma. Você não tinha mais aquele sorriso no rosto, nem o abraço que levava todas as preocupações pra longe, mas a sua força ainda estava lá, intacta. Ê menina guerreira, sim, ainda era você. E juntamos nossas forças e lutamos contigo.

Mas você era uma lagarta presa em seu casulo. Você precisava voar e você voou, você sempre soube o que fazer quando esse dia chegasse. Nós te dissemos até logo, seguramos tua mão uma última vez e você voou, numa noite em que o brilho do asfalto molhado me intrigava ainda mais.

___Ruana Lins