Saudade



Estava nervosa. Há tempo não ia aquele lugar mágico onde passei as minhas férias. O som do carro estava recheado com música cheia de lembrança e saudade. As mãos suavam, estava com medo. Medo dos sentimentos que viriam a tona, medo de chorar e não conseguir mais parar. 40 minutos se passaram, chegamos. 
A casa estava cheia de memórias tua. E elas me inundaram. As lágrimas brotaram nos olhos. Engoli. O nó na garganta porque não queria chorar. As mãos tremendo, a vontade de te ter ali, te abraçar, te contar novas histórias, te contar como anda a minha vida. Respirei fundo. De novo. Mais uma vez. Girei a chave, os olhos fechados e entrei.
A casa parecia um pouco mais baixa do que eu me lembrava, estava mais fácil tocar no portal da porta da sala, já não precisava pular como sempre fazia. Acho que finalmente cresci, Vó. A casa começou a cair, ninguém teve coragem de vir aqui, mesmo depois de tanto tempo. Entrei no seu quarto, o seu cheirinho ainda estava ali. Lembrei de quando dormia com a senhora. De como me ensinou a rezar, eu rezo daquele mesmo jeito até hoje. Lembrei das risadas que dei enquanto a senhora me contava que pulava a janela do quarto pra ir pro baile. 
A cozinha com seu cheiro de café e do fogo a lenha. A comida boa que a Titi fazia. As risadas, os natais e as viradas de ano que passamos ali com a família toda reunida. O lugar mais quentinho da casa e onde eu colocava os patinhos para dormir quando chovia. Já não aguentava mais, as lágrimas rolaram sem controle. Mainha segurou minha mão e choramos juntas, lembrando dos momentos especiais que passamos contigo. 
No quintal, encontrei as memórias das inúmeras quedas e a planta onde a senhora tirava o leite para consertar meu punho torcido. Sorri, eu fui a única que conseguiu cair de quase todos as árvores da fazenda, a Lala me falou esses dias que depois da queda em que eu fui parar no hospital ela nunca mais teve coragem de subir de novo naquele pé de Caju. Eu, ao contrário, subi três dias depois (risos). Olhei ao redor e me dei conta do quanto eu fui feliz ali, queria que todo mundo pudesse ter tido um tempinho com a senhora. 
Mainha tocou em meu ombro. Estava na hora de voltar pra realidade. Olhei ao redor mais uma vez, querendo fotografar todos os cantinhos e falei: A bença, Vó. Sorri, fechei a porta de novo e parti.  

____Ruana Lins

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Carta ao namorado da minha melhor amiga

Olá querido,

Você foi feito para mim