Entre Nós - Final: Fernanda

Tomamos café juntos aquela noite. Sofia, minha pequena, adorou conhecer Marcos, eles brincaram bastante. Mas não havia como ele entrar em nossas vidas de uma hora para outra, eu não sabia como tira-lo de onde quer que ele estivesse em meu coração. Era como se meu coração não conhecesse mais a música que ele produzia. Vontade de voltar, tomar conta da sua vida, o "até que a morte os separe" se tornou  agora quase que uma responsabilidade.
Seus olhos estavam tão longe quanto possível, meu coração não aguentava a noticia do que estava acontecendo, eramos para ficar juntos e mesmo assim não eramos capaz de tal ato. Ele me olhava, sua voz tremia, ele tinha algo muito ruim para falar, coloquei minha mão sobre o seu ombro como se dissesse "Pode falar, sempre estarei aqui por você". E de repente, com a voz um pouco falhada e trêmula pela tentativa de reprimir seu choro ele falou:
- Eu estou com câncer. Só tenho alguns meses.
Meu coração e muito menos a minha razão sabiam o que fazer, a vontade era fugir com ele daquele mundo terrível, o mundo realmente era uma droga, como Marcos insistia em falar. Mas a razão começou a lembrar as responsabilidades que eu havia assumido: marido, filhos, empresa...
***
Começamos a viver então como melhores amigos. Fomos para a orla, vimos o por do sol, conversamos em baixo da nossa árvore. Revivemos todo o passado, como um tentativa de voltar de onde paramos e no meu caso me responsabilizar de certa forma por tudo que estava acontecendo com Marcos. Eu sentia a vontade que ele tinha de me ter em seus olhos, mas nos meus não havia lugar para mais solidão. Logo ele terá ido embora e em mim ficará apenas a lembrança, saudade, que eu já havia superado uma vez, mas não sabia se suportaria outra dessas. Eu mudei muito nos últimos anos, provavelmente uma forma de me proteger do medo de perder e muitas vezes esqueci o sentimento de arriscar, o frio na barriga, as mãos tremendo ao ouvir a sua voz e os sorrisos que já não eram os mesmo e que nunca mais tornariam a ser.
Fiquei olhando para ele durante toda a nossa caminhada, com vontade de me arriscar. As perguntas sem respostas passaram a fazer parte de mim, então decidi que havia chegado o momento, tinha sido muito bom reencontra-lo, mas nossas vidas tinham mudado e os nossos sentimentos também. Olhei fundo nos seus olhos, queria ter falado mais coisas, mas só consegui dizer:
- Eu sinto muito.
E corri. Simplesmente corri, atravessei ruas, avenidas, me atravessei. Chorei, não porque mais uma vez estava doendo, mas por ter sido tão fraca e ter desistido de lutar pelos poucos momentos que ainda teria ao seu lado.
Os dias foram passando, agora se tornaram meses e eu não ouvi mais o seu nome. Decidi caminhar um pouco, olhar o mar. Pensar no que eu deveria fazer. Os minutos passavam e os pensamentos ganhavam asas, mas sempre acabavam voltando para ele, "Como será que ele está?", "E a quimioterapia, será que ele está se dando bem?" e quando eu vi estava em frente a nossa árvore e sentada em baixo dela estava ele, Marcos, meu coração parou uma batida, o mundo pareceu parar de girar e eu não sabia o que fazer, decidi sair dali o mais rápido possível, quando ouvi uma voz dizendo:
- Por favor, fique.
Parei. Titubeei e comecei a andar em direção a árvore. Sentei ao seu lado, o coração não parava de correr. Ficamos ali sentados, sem falar nada. Pensei em falar alguma coisa, mas o momento não permitia palavras, todos os gestos eram maiores e demonstravam muito mais do que simples palavras jogadas ao vento. Peguei levemente sua mão, como se dissesse: "Eu vou te amar para sempre". Lágrimas começaram a descer pelo seu rosto, a minha garganta começou a se fechar em um grito oculto. Ele se levantou, olhou uma última vez em meus olhos e começou a andar. Senti meu coração gritar de dor e sussurrei:
- Eu sempre vou amar você.

Depois daquela tarde nunca mais ouvi falar de Marcos, até duas semanas atrás, quando uma enfermeira me entregou uma carta que ele havia escrito minutos antes de morrer e que até hoje eu não tinha tido coragem de abrir.

__Ruana Lins

Gostaria de agradecer ao amigo Eddie Nunes, por ouvir todos os meus dramas durante a construção das minhas histórias e por me obrigar a dar de presente a Marcos um câncer. rsrs Obs.: Haverá mais dois posts. Não percam estarei divulgando nos próximos dias. =) E não esqueçam de comentar, estou aceitando criticas, sugestões, enfim. hehe .-.

Comentários

  1. Muito Bom, Muito bom mesmo. Agora ô minha irma pq sempre tem q ter um com cancer nas tuas historias?; kkkk; Queria ver a luta, a obrigação da tomada de decisoes, a escolha. Outra, não gostei do Marcos ele desistiu muito fácil, muito rápido e descobriu q era armação e num fez porcaria nenhuma, anos depois so pq a Fernanda volta fica com essa frescura...kkk...Pobre do marido dela que sempre esteve ao lado dela ...Muito fácil pra Fernanda q nunca tem q se decidir, fica nesse negocio de num sei o q fazer mas tá tudo muito fácil pra ela q nunca precisa se decidir, um vai morrer e o outro vai consolar, muito triste, o marido deveria ter uma influencia maior na vida dela,afinal ela casou e teve uma filha com ele, ela volta ja caindo de amores pelo outro, vai-te. (Ps.: Gostei mesmo da história Ruana, vc leva jeito mesmo para escrever)

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    1. Muito obrigada minha irmã! E muito do que sou hoje devo a você! E eu consegui o que queria deixar os leitores com "raiva" da Fernanda =)

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