Café?


Todas as tardes Marina comprava uma xícara de café em uma esquina próxima a sua casa. Levava o notebook, a boa coragem e sua criatividade para escrever seu primeiro livro, seu editor a acordava todas as manhãs cobrando mais um capitulo de seu livro: "Eu preciso de mais um capitulo Mari e por favor pra essa semana ainda", ela nunca conseguiu trabalhar sob pressão - ele sabia - mas dessa vez ela prometeu em frente ao seu espelho que não desistiria, que iria até o final e mostraria a todos que poderia conseguir tudo o que queria. 
Os dias passavam sem graça e cheios de bloqueios de escrita. Era difícil escrever uma linha quem dirá um paragrafo. Passou então a admirar a paisagem, quem sabe poderia roubar um movimento que fizesse sua criatividade ganhar asas, sem precisar tomar Red Bull. Mas os dias eram os mesmo, as mesmas pessoas, os mesmo gestos, as mesmas camisas xadrez que de tanto usar já estavam desbotadas. Mesmo assim ela persistia e o amor também caminhava ao seu lado, quem sabe as coisas seriam mais fáceis se tudo o que  ela precisasse fosse de um amor verdadeiro.
No outro dia ela caminhou mais que o normal, dessa vez ela precisava respirar outros ares e acabou perdendo o horário do seu café. Seguiu em passos lentos para a outra esquina. Sua mesa de sempre estava ocupada, um rapaz loiro,cabelos cacheados, olhos claros, "um belo exemplar europeu" ela pensou. 
Amarrou um pouco a cara por ele ter "roubado" sua mesa e por ser tão bonito e sentou na mesa em frente a dele. Abriu o notebook e pediu o mesmo de sempre "Chocolate quente duplo, por favor." Olhou para ele. Ele sorriu. Ela fingiu que não viu. Olhou para o teclado e também sorriu. 
No outro dia Marina coreu para o café, sentou na mesma mesa do outro dia e esperou o belo rapaz. Para a decepção da garota e para o bem da sua criatividade o rapaz não apareceu. Nesse dia ela escreveu como se as palavras brotassem de sua alma. 
Os outros dias foram do mesmo jeito. Decepção e criatividade. Até que uma semana depois, um belo rapaz chegou ao seu lado e sussurrou: "Café?" Ela olhou para trás um pouco arrependida por fazê-lo tão rápido   e sem saber exatamente o que deveria fazer balançou a cabeça afirmando e não disse mais nada. As palavras que brotavam com tanta facilidade pareciam ter se esgotado. E ela não falou. Ele também não falou. Mesmo assim seus olhos se encontraram e sorriram como se recordasse um do outro. 
Depois dos sorrisos e troca de olhares Marina resolveu que havia chegado a hora de fazer alguma coisa e se levantou, chegou na mesa que costumava ser sua e perguntou: "Café?"e ele respondeu: "Café" - Com um sorriso brotando em seus lábios.


___Ruana Lins

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